Títulos verdes e sociais
Artigo 5 da série sobre Fatores ESG / Investimentos de Impacto e Famílias Investidoras
Dois tipos de ativos vêm ganhando espaço nas finanças mundiais, aproveitando o momentum atual dos ativos sustentáveis: os Green Bonds e os Social Impact Bonds.
Sir Ronald Cohen, proeminente investidor conhecido por ser um dos primeiros desenvolvedores do venture capital, costuma dizer em suas palestras recentes que o século XIX viu a medição de retornos financeiros nos investimentos, o século XX viu a medição de risco e retorno e que o século XXI espera a medição de risco, retorno e impacto. Os Green Bonds e os Social Impact Bonds disponibilizam aos investidores o potencial para se acompanhar essas três variáveis e vêm gerando rentabilidade combinada a impactos positivos.
Os Green Bonds são títulos de Renda Fixa cuja principal característica é a captação de recursos para investir em projetos que promovam a sustentabilidade ambiental. Nesse sentido, eles podem até ser emitidos por uma empresa do setor de petróleo ou de papel e celulose, a depender de onde serão aplicados os recursos. De acordo com o Climate Bonds Initiative, um think tank do setor de Londres, em setembro de 2016 o total de títulos verdes era de USD 140 bilhões assim rotulados, enquanto haveria USD 576 bilhões em títulos verdes não rotulados. Abaixo, a estimativa do think tank sobre as emissões de Green Bonds desde 2012 e sua distribuição pelo mundo:
Gráfico 1: Green Bonds emitidos por ano (2012-2016)
Climate Bonds Initiative Markets: Green Bonds Highlights 2016. (2017)
Gráfico 2: Green Bonds emitidos por ano e por região
Climate Bonds Initiative Markets: Green Bonds Highlights 2016. (2017)
As vantagens dos Green Bonds para os emissores são várias: potencialmente alcançam mais investidores; têm alta demanda nos mercados nacional e internacional; e melhoram sua reputação no mercado financeiro e com a sociedade em geral.
É muito importante a comprovação de que o título de renda fixa a ser emitido seja de fato “verde”, além de ser necessário posterior acompanhamento. Recentemente, um grupo relevante de bancos internacionais criou o Green Bond Principles, que lista uma série de normas voluntárias para a classificação do título, como a transparência em relação a onde os recursos serão aplicados, critérios de elegibilidade e acompanhamento da performance ambiental dos investimentos realizados. A classificação de título verde pode também seguir os critérios estabelecidos pelo Climate Bonds Initiative, com especificidades para cada setor. A companhia pode, a partir deles, classificar sua emissão como “verde” ou buscar uma opinião independente, obtida por meio de uma certificação, validação, consultoria ou rating ambiental.
Seus recursos são aplicados em geral nos setores de energia, construção e indústria, transporte e água. Mais especificamente, projetos de energia renovável; eficiência energética; transporte limpo; produtos eco-eficientes e gestão sustentável de água.
De empresas brasileiras, bons exemplos foram as emissões da Fibria de USD 700 milhões e do BNDES de US$ 1 bilhão para projetos de energia eólica ou solar, ambos em 2017. Segundo a Climate Bonds Initiative, o potencial para emissões verdes no Brasil é imenso e, até a metade de 2016, havia de estoque apenas USD 2,9 bilhões de títulos com características verdes, entre rotulados e não rotulados no país.
Já os Social Impact Bonds (SIBs) são uma operação estruturada. Basicamente, um projeto social de interesse comunitário é financiado pela iniciativa privada e, se alcançar os resultados sociais esperados, o governo do local remunera os investidores pelos resultados alcançados. É um tipo de investimento mais modesto que os Green Bonds. De acordo com a ONG inglesa Social Finance UK, desde a primeira emissão de SIB, em 2010, até 2016, foram 60 emissões no total, totalizando pouco mais de USD 200 milhões. No Brasil, têm sido chamados de “contratos de impacto social”.
Tais títulos podem ser interessantes na medida em que permitem inovações em programas sociais que ficariam muito complexos se tentadas diretamente pelos Governos locais. Por exemplo, o primeiro Social Bond emitido buscava recuperar presos ingleses recém-libertos para que não voltassem à cadeia, dado que a taxa de reincidência no local era muito alta. O Governo remunerava os investidores privados se a taxa de reincidência de fato caísse.
Apesar do pequeno tamanho das emissões, como o foco são projetos sociais, o impacto positivo realizado pode ser bem relevante e se estima que tenham sido afetadas mais de 90 mil pessoas até hoje. No Brasil ainda não houve emissões de Social Bonds, porém, aos poucos, as emissões de Green e Social Bonds vêm se movendo do mundo desenvolvido para o mundo em desenvolvimento.
Uma nova tendência nestes mercados tem sido o uso de recursos de filantropia para dar liquidez ou reduzir o risco nestes instrumentos. Isso pode viabilizar a entrada de novos investidores e ajudar a fomentar o crescimento nestes mercados.
Green e Social Bonds trazem como novidade a medição e transparência dos impactos ambientais e sociais de suas aplicações, e ganham notoriedade por fazerem isso ao mesmo tempo que entregam uma atrativa remuneração financeira. Nesse sentido, podem ser uma oportunidade para famílias investidoras interessadas em gerar impacto ambiental e social positivo, com transparência de resultados e retorno financeiro.
Sobre os autores
Miguel Gomes é formado em economia pela PUC-Rio e é detentor da certificação Chartered Financial Analyst (CFA). Após anos de atuação no mercado financeiro, hoje é gestor do time de Planejamento Financeiro da Stone Pagamentos.
Antonio Azevedo é Sócio-diretor na INEO e coautor do livro A Família Investidora e o Family Office.