Walton: a maior fortuna familiar do mundo

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A Família Walton é conhecida por controlar a maior rede de varejo do mundo, o gigante WalMart. O patriarca Sam Walton já acumulava 16 lojas em 1962, no Arkansas, quando abriu o primeiro WalMart, aos 44 anos de idade. Auxiliado por seu irmão Bud e outros familiares, em poucos anos, viu o êxito da empresa que prometia levar os menores preços aos consumidores e expandiu seu negócio para os estados vizinhos.

O WalMart tornou-se um dos símbolos da chamada Era de Ouro do capitalismo norte-americano. Apenas sete anos após abrir sua primeira loja, já somava US$44 milhões em vendas.  O WalMart possui valor de mercado de US$ 328 bilhões[1] (13/01/2020) e está presente em 27 países, com mais de 11.000 lojas e 2.3 milhões de funcionários.

Os Walton possuem um patrimônio diversificado que os qualifica como família investidora. Desde o início, Sam investiu seus retornos em outros ativos financeiros, com a criação de uma própria empresa de transportes para abastecer a rede de supermercados e com a incorporação de empresas subsidiárias do WalMart. O Sam’s Club é a principal delas, outra rede varejista internacionalizada que segue o sistema atacadista. Além desta, seis outras empresas pertencem ao Grupo WalMart, com serviços de venda físicos e e-commerce de diferentes ramos do mercado.

Além do varejo, os Walton investem em diferentes setores. A família já teve seu próprio jornal, o Community Publishers Inc. (CPI), que também era um portal online e editora e que recentemente encerrou suas atividades, em 2015. Já o Arvest Bank representa outro importante ativo para a família – sua formação iniciou-se ainda na década de 1960, quando os Walton compraram diversos bancos da região de Bentonville, como o próprio Bank of Bentonville, na época com US$ 3.5 milhões em depósitos. Hoje o banco possui mais de 260 franquias que fazem parte de 14 bancos gerenciados localmente em mais de 135 comunidades e, atualmente, seus ativos excedem os US$ 19 bilhões[2].

Para gerir seu patrimônio, os Walton contam com a Walton Enterprises LCC, holding criada em 1988 para administrar os investimentos da família. De modo semelhante ao Single Family Office, a holding, situada em um discreto prédio na cidade de Bentonville, é responsável pela gestão da totalidade dos ativos dos herdeiros, incluindo as ações no WalMart, compreendido como um entre outros investimentos, o Sam’s Club e o Arvest Bank.

A família se reúne a cada 4 meses, aproximadamente, para debater e entrar em consenso sobre o rumo de seus investimentos, buscando sempre o alinhamento de interesses e a construção de um portfólio que faça sentido.

Dentro de suas empresas, os membros da família Walton também possuem participação ativa. A empresa que deu origem à fortuna familiar ainda hoje continua sob controle da família: os três herdeiros diretos de Sam – Alice, Rob e Jim Walton – junto à Walton Enterprises LCC possuem quase 50% do negócio e ocupam cargos fundamentais para a empresa no conselho. Rob esteve na direção do Grupo WalMart desde a morte do pai, em 1992, até 2015, quando transferiu a posição para seu genro Greg Penner e seguiu como membro do conselho. Já Jim Walton é presidente do Arvest Bank e foi o diretor da CPI. Alice Walton, importante filantropa envolvida no mundo artístico, é uma das diretoras na Walton Family Foundation (WFF). Dessa forma, a família é protagonista na gestão do seu patrimônio através de diferentes iniciativas, zelando por seus objetivos e preservando a cultura e os valores familiares.

A Walton Family Foundation é um importante representante do capital social da família Walton, criada em 1987 para fins de filantropia. Através da fundação, os Walton contribuem para causas que consideram fundamentais e que refletem seus valores: a educação básica, financiando projetos de melhorias no ensino e inclusão de crianças carentes; o meio ambiente, especialmente medidas de proteção aos rios e oceanos e; melhoras na região dos estados do Arkansas e Mississipi, dois dos mais pobres do país. A Fundação possui cerca de US$ 2 bilhões em ativos, o que corresponde a menos de 1.5% do patrimônio líquido da família. A família também aplica medidas que visam causar impactos sociais positivos dentro de suas empresas. No WalMart, por exemplo, há a iniciativa de construir uma supply chain diversificada, incluindo fornecedores pertencentes a grupos de minorias na cadeia produtiva.

Apesar da diversificação, o varejo e o WalMart ainda são o principal foco de investimentos, o que pode ser um risco para o patrimônio em certos períodos. Recentemente o grupo enfrenta o desafio das mudanças aceleradas que tem ocorrido no setor de varejo, especialmente com o forte crescimento do comércio eletrônico. Um exemplo de grande competidor entrando no seu mercado é a Amazon, que em 2018 comprou a rede WholeFoods. Tais desafios são relevantes para o futuro do negócio. Entretanto, com um patrimônio líquido de US$190.5 bilhões, a família investidora é ainda a mais rica do mundo segundo a Bloombergs[3], com três gerações de membros protagonistas na gestão do patrimônio familiar e que obtiveram êxito na preservação do e expansão do mesmo, aplicando uma visão de longo prazo nos investimentos.

A terceira geração vem gradualmente ganhando espaço: em 2016, Jim Walton passou sua cadeira no conselho do Walmart para seu filho Steuart e, além disso, Lukas Walton (31) possui direito de voto em unidades da Walton Enterprises. Essa geração ainda é responsável por levar parte do crescimento do Walmart para a cidade de origem dos Walton, Bentonville, onde pequenas empresas foram instaladas para servir à comunidade e aquecer a economia local.

Este comportamento, aliado às boas práticas de governança patrimonial adotadas, foi fundamental para que eles permanecessem como a família mais bem-sucedida das últimas décadas e pode ser essencial para o futuro dos Walton enquanto família investidora. Em sua autobiografia “Made in America”, Sam Walton resume estes comportamentos em dez regras para o sucesso, que também recomenda aos demais empreendedores:

  1. Comprometa-se ao seu negócio e acredite nele;
  2. Compartilhe os lucros com seus funcionários e os trate como parceiros, melhorando a performance total;
  3. Motive e desafie seus parceiros e sócios;
  4. Comunique tudo que for possível aos seus parceiros;
  5. Reconheça o que seus sócios fazem para o negócio, e não somente os compense financeiramente;
  6. Celebre seu sucesso e mostre entusiasmo;
  7. Escute a todos em sua empresa, especialmente os que estão na linha de frente e lidam com o cliente;
  8. Supere as expectativas de seus clientes;
  9. Controle seus gastos melhor que os seus adversários;
  10. Nade contra a corrente, ignore a sabedoria convencional.

 

Referências:

[1] Yahoo Finance. Disponível em <https://finance.yahoo.com/quote/WMT/>.

[2] Arvest Bank. Disponível em <https://www.arvest.com/about/history>

[3] Bloomberg. Disponível em <https://www.bloomberg.com/features/richest-families-in-the-world/>

 

Por Clara Lins Gomes – Pesquisa e Desenvolvimento de Conteúdo INEO.

 

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