Bemberg: uma Família Investidora pioneira
A industrialização da Argentina teve grande contribuição dos Bemberg entre os séculos XIX e XX. Com a fundação da Quilmes, além de cerveja, o grupo passou a produzir insumos e embalagens, buscando diminuir as importações a abrindo portas para outras bebidas, como refrigerantes.
Seu pioneirismo se estende também à gestão de sua riqueza: com patrimônio crescente ao longo do tempo, em 1917 fundou seu family office, a Quilvest, um dos mais antigos do mundo. Ainda em funcionamento, além de atender a família Bemberg, a Quilvest atualmente oferece serviços a outras famílias investidoras.
As origens da família remetem à Alemanha do século XIX, com Pedro Federico Otto Bemberg. O patriarca emigrou para a Argentina em 1850, investindo nas indústrias de tecidos e cereais que surgiam no país, mas manteve operações financeiras na Europa. Com seus retornos, abriu sua própria fábrica de destilação de álcool de milho em Quilmes – ao lado de Buenos Aires – em 1870; dezoito anos mais tarde deu início ao que seria a maior cervejaria da Argentina, a famosa Brasserie Argentine Quilmes, junto a seu filho Otto Sebastián.
As gerações seguintes assumiram o controle da empresa, expandindo o negócio conforme adquiriam novas cervejarias da região. Em 1920, a Quilmes já era a cerveja mais consumida na capital do país e, em 1921, a empresa criou o primeiro malte usando cevada argentina, que abasteceria toda a indústria nacional. A Quilmes ainda fundou a primeira fábrica argentina de garrafas com tampa, substituindo as rolhas, o que abriu espaço para novos produtos como refrigerantes. Dessa forma, os Bemberg foram responsáveis por impulsionar boa parte da industrialização do país.
Ao longo do século vinte, a família enfrentou dificuldades que ameaçaram a preservação do patrimônio. A quebra da bolsa de Nova York em 1929 foi uma delas, mas Otto Sebastián conseguiu evitar grandes perdas ao vender boa parte de suas ações e comprar ouro. Houve ainda o confisco dos ativos da família em 1952, durante o regime Peronista, quando a fortuna estava avaliada em US$ 3 bilhões, nos valores atuais. Entretanto, no governo seguinte o patrimônio foi devolvido à família, sendo que, na época, já incluía cervejarias, um banco, fábricas têxteis e outros ativos.
Nas décadas seguintes, os Bemberg continuaram com sua estratégia de diversificação e a Quilmes passou a ser um ativo dentro de um grande portfólio. Quando isto acontece, as famílias investidoras costumam estar constantemente avaliando o sentido de manter cada ativo em sua carteira. Em 2002, a AmBev (atual AB InBev) comprou 37,5% das ações da Quilmes e, em 2006, aumentaram ainda mais sua porção, adquirindo 91% das ações sobre a empresa. Dessa forma, os Bemberg se desfizeram da empresa que deu origem à fortuna familiar.
Hoje, o patrimônio da família é gerenciado através do grupo Quilvest S.A., criado para ser o family office que administraria suas posses na França. Com o passar do tempo, a Quilvest abriu portas para clientes classificados como Ultra High Net Worth Individuals (UHNWIs), com mais de €100 milhões em ativos, além de investidores privados e instituições.
Atualmente, a Quilvest administra mais de US$ 36 bilhões em ativos, englobando gestão de riquezas – através da Quilvest Wealth Management, multi-family office com 4000 clientes e aproximadamente US$31 bi em ativos sob gestão, além de investimentos em private equity – através da Quilvest Private Equity, que gerencia aproximadamente US$ 5 bilhões[1].
Os mercados emergentes da Ásia e América Latina recebem grandes investimentos do grupo, assim como, o mercado imobiliário na Europa e Estados Unidos, uma vez que a Quilvest o enxerga como valioso, tanto em termos de diversificação para a carteira, quanto para gerar valor no longo prazo.
A família é protagonista na orientação estratégica do grupo e seus negócios, estando profundamente envolvida na gestão do patrimônio e informada sobre os principais processos. Os membros da família decidiram não assumir posições executivas na corporação, mas participam nos órgãos de governança. Encontram-se de quatro a cinco vezes por ano com o CEO e membros do conselho, garantindo que seus interesses estejam alinhados com os dos demais clientes atendidos pelo Quilvest.
Segundo Serge de Ganay, da sexta geração, presidente do conselho da Quilvest Wealth Management e um dos conselheiros no Quilvest S.A, “para uma nova geração entrar, se não houver uma sólida governança, a família se colocará sob risco”[2]. Portanto, para preparar a nova geração para assumir a gestão do patrimônio, a cada dezoito meses é feita uma reunião com os herdeiros de 18 a 30 anos, passando conhecimentos sobre governança e compartilhando os valores da família.
O grupo afirma que um dos fatores para seu sucesso é a capacidade de adaptar-se às mudanças, com flexibilidade para alterar seus investimentos buscando retorno absoluto. Além disso, apesar de ter uma gestora de ativos de terceiros, predomina na família a mentalidade de investidores, e não gestores profissionais, pois também investem seus próprios ativos utilizando da mesma estrutura – a Quilvest Wealth Management. Os Bemberg são exemplo de como uma família pode ser a protagonista de seu patrimônio mesmo que não esteja envolvida no funcionamento operacional do mesmo, dando ênfase à participação em boas estruturas de governança que permitem a preservação da riqueza e o alinhamento com os interesses familiares.
[1]Quilvest Private Equity (http://www.quilvestprivateequity.com/about-quilvest-private-equity/key-facts). Dezembro/2017.
[2] The Business Times Singapore. (http://www.quilvestwealthmanagement.com/wp-content/uploads/2014/01/2014-01-08-The-Business-Times-Singapore-Wealth.pdf). Janeiro/2014.
Quilvest Website. (http://www.quilvest.com/).
Por Clara Lins Gomes – Pesquisa e Desenvolvimento de conteúdo INEO.
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