Hearst
O nome Hearst é indissociável da história das comunicações e esteve presente durante as maiores inovações do século XX: o rádio, a televisão e a internet transformaram o modo de atingir o público, e a família Hearst, em cada momento, se aproveitou das novas tecnologias para expandir seus horizontes. Hoje, canais de alcance global como a rede ESPN e sites como Vice e Buzzfeed fazem parte da moderna carteira da família e também da cultura popular norte-americana e global, mas para além da mídia, os Hearst ainda se inseriram em setores diversos como serviços financeiros, dados e até mesmo serviços de saúde.
Em 1880 George Hearst comprou seu primeiro jornal e, anos mais tarde, passou a empresa para seu filho. William Randolph Hearst, em poucos anos, construiu um portfólio com inúmeros jornais e revistas ao redor dos EUA, fundou a Hearst Corporation (1887) para centralizar todos os ativos sob uma única administração e desde então nunca deixou de buscar a inovação. Hearst foi pioneiro em diversos meios de comunicação, e foi imortalizado ao ser retratado em Cidadão Kane – clássico do cinema baseado na vida de Hearst e em uma busca do magnata pelo poder através de seu império das comunicações – o que o garantiu uma reputação indesejada como um ganancioso empresário. Suas tentativas de boicote à obra, porém, não foram suficientes para desassociar a imagem de Hearst à do protagonista Kane.
Apesar das críticas à sua trajetória, é notável como Hearst foi um visionário tanto em relação ao patrimônio quanto à sua passagem para as próximas gerações. Para manter os negócios sob controle da família, W. R. Hearst criou um plano de sucessão (que entrou em vigor em 1951, após sua morte) apontando seus cinco filhos como membros do conselho, com voz ativa sobre decisões estrategicas, mas impedindo que os herdeiros tivessem controle absoluto sobre a corporação. No total, 13 membros compõem o conselho, sendo oito obrigatoriamente externos à família, visando ter uma gestão profissionalizada para o êxito da Hearst Corporation. Sua estratégia foi bem sucedida: mais de 130 anos após a aquisição do primeiro jornal, chegando hoje a um total de 360 empresas sob o portfólio dos Hearst, a família mantém 100% de posse sobre a Hearst Corporation.
O patrimônio líquido da família chega hoje aos US$ 24.5 bilhões, de acordo com a Business Insider (Julho/2018)[i], e é compartilhado entre cerca de 67 membros familiares. Seus principais negócios continuam sendo jornais e revistas, mas novas estratégias têm sido essenciais para a constante renovação do patrimônio e sua perpetuação no longo prazo. A família soube se adaptar às transformações do mercado e ao surgimento da internet no momento certo, utilizando dessa ferramenta para propagar ainda mais seu conteúdo. Hoje, apenas a Hearst Communications, que abrange os jornais e canais de mídia, possui receitas anuais de cerca de US$ 10.8 bilhões (2017)[ii].
Atualmente, empresas de serviços de informação e serviços financeiros foram incorporadas à gama de investimentos da família. Em 2018, a Hearst desembolsou US$ 2.8 bilhões para comprar os 20% das ações restantes do Fitch Group e tornou-se proprietária do grupo de empresas, que inclui a Fitch Ratings, uma das líderes mundiais em classificação de risco. Com essa compra, o Fitch tornou-se o maior negócio que pertence totalmente à Hearst, o que demonstra a flexibilidade da família ao optar por entrar em um ramo distante daquele de origem e sua capacidade de renovação. No mesmo ano, o presidente da corporação, Steven Swartz, anunciou lucros recordes pelo sétimo ano consecutivo, sucesso que atribui à gradual aquisição do Fitch Group.
Os Hearst têm conseguido renovar seu portfólio com investimentos diversificados seguindo as tendências das novas tecnologias, tanto dentro do ramo das comunicações, adaptando seu conteúdo à internet e às redes sociais, como investindo em setores inéditos para a família. Este comportamento de família investidora garantiu a longevidade do patrimônio e a permanência da corporação como sendo de capital fechado. Entretanto, para o futuro, a família tem o desafio de criar uma nova estratégia de sucessão para a próxima transição geracional – prevista para os próximos 25 anos –, que seja capaz de lidar com um crescente número de descendentes e de manter a Hearst Corporation sob seu controle.
[i] Business Insider. The 25 richest American families, ranked. Disponível em <https://www.businessinsider.com/richest-billionaire-families-america-2018-7>
[ii] Forbes. Hearst family. Disponível em < https://www.forbes.com/companies/hearst/#5f1562a62e29>
CLARA LINS GOMES
Responsável por Pesquisa & Desenvolvimento de conteúdo na INEO.